sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Metade




 
         
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito...
A outra metade é silêncio.
 
Que a música que ouço ao longe,
Seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que amo seja pra sempre amada,
Mesmo que distante.


Pois metade de mim é partida,
A outra metade é saudade...
 
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas, como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos.


Pois metade de mim é o que ouço,
A outra metade é o que calo...
 
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço.
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada.


Porque metade de mim é o que penso,
A outra metade um vulcão...
 
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância.


Pois metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade, não sei...
 
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito.
E que o seu silêncio me fale cada vez mais.


Pois metade de mim é abrigo,
A outra metade é cansaço...
 
Que a arte me aponte uma resposta,
Mesmo que ela mesma não saiba.
E que ninguém a tente complicar,
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.


Pois metade de mim é plateia,
A outra metade é canção...

Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor...
E a outra metade também...



 

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